Duas das coisas que mais me chamam a atenção na escrita contemporânea é
a profusão de autores, mas que não encontram espaço nas grandes editoras. Em
sua experiência de quase vinte livros publicados, como tem sido ser editado e
lidar com esse mercado tão díspare?
O escritor deseja ser lido e, para ser
lido, tem de ser publicado. Salvo pequenas e médias editoras que abrem espaço
para muitos autores, o mercado editorial é perverso, ao investir em nomes já
consagrados e não se importar com os neófitos nem com quem está no meio do
caminho, A exceção é se o autor recebe um prêmio importante e uma editora
decide “bancá-lo”. No meu caso pessoal, não tenho quem custeie meus livros, no
entanto não deixo de publicar. É importante que a cadeia de leitores circule,
por meio de troca de títulos com escritores, ou doações a bibliotecas, centros
culturais, ou envio/remessa a professores, jornalistas, críticos literários,
ensaístas, isto é, intelectuais de toda ordem, sempre sem perder a noção de que
o livro é um bem cultural, um produto, e deve ser vendido, para que fundos
sejam organizados para o custeio de um próximo trabalho.
Um dos caminhos temáticos de seus poemas, dos quais mais gostei, é o que
se debruça sobre a escrita e o insere no cotidiano: vida e linguagem em
profunda simbiose. Como ocorre no livro A eternidade dos dias, há versos
lapidares sobre o ofício da escrita e suas nuances atuais, mas você “rejeita
ser/ mero cartão postal”, porque “a poesia pede passagem”. Qual a relação entre
poesia e eternidade?
A poesia é eterna, já que se volta a uma
comunicabilidade suprema, que vai além da vida cotidiana. Assim, a boa
literatura atravessa o tempo, porque possui substrato, porque possui essência.
Já o que for supérfluo não terá espaço e morrerá no sistema.
Seguindo pelo mesmo campo temático, percebo em seus poemas, profundo
questionamento sobre o tempo. E creio que a boa, a grande poesia é feita dessas
dúvidas sobre o existir, porque “o tempo não se rende/ a nada que o prenda.”
Como se dá sua relação com a passagem do tempo?
Existem linhas mestras sobre as quais os
escritores sempre se debruçam. São temas universais cantados em verso e prosa
em todas as línguas do planeta: o amor, a morte, a solidão, a dor de existir, o
tempo, entre tantos outros. Pessoalmente, a temática do tempo me agrada por
demais e, ainda que ele possa trazer (e trará a morte, com o fluir dos dias),
prefiro a concepção deste poema:
EXPERIÊNCIA
“O Tempo não pode viver sem nós
para não parar”
Mário Quintana
tal qual o despertador
nos chama à vida,
o tempo não está além
está em nós
no ranger da boca
no embranquecer dos cabelos
no empapuçar dos olhos
no silencioso ofício
de nos tornar sábios
Qual o papel e como lida com os prêmios literários mais relevantes?
Os prêmios literários são importantes,
porque sinalizam um incentivo ao trabalho do escritor. Em minha carreira, com
perdão do gerundismo, venho sendo agraciado com nobres distinções. Cito uma de
relevância e recente: em 2019, recebi o
título de “Melhor Autor Apperjiano 2019” pelo conjunto da obra, até então 15
livros. Sou muito grato à APPERJ (Associação Profissional dos Poetas do Estado
do Rio de Janeiro) por tal honraria.
As redes sociais ajudaram a divulgar o trabalho literário, mas trouxeram
também o desejo de ser visto, apreciado e nem sempre isso se dá em um mercado
cada vez mais compartimentado em blocos, o que causa também desconforto e
doenças. De que forma as redes sociais ajudam ou atrapalham o trabalho de um
escritor?
Como não há espaços de divulgação na
grande mídia, utilizo as redes sociais para divulgação de minha obra literária,
de forma que, com profissionalismo e dedicação à causa, não haverá problemas
quanto ao uso da tecnologia. Por isso, as redes são fundamentais para troca de
contatos com escritores e a disseminação dos títulos já publicados, ou de
futuros lançamentos.
A observação social com suas vertentes mais escabrosas se faz presente
em sua escrita, porque “há vísceras/ em todos os lugares/ quem se indigna/
diante de quem sangra?” Aparentemente, muito poucos, se me permite a resposta
ao poema. Cada vez mais vivemos o império do indivíduo, do narciso, daquele que
se acha sempre em competição com todos ao redor. Como vê o atual momento social
brasileiro, sobretudo em relação às artes e aos escritores?
A internet mostra que hoje qualquer um
pode ser escritor. Basta publicar qualquer coisa nas redes sociais e a pessoa
se diz escritora, ainda que não haja qualidade. Enfim, como toda atividade
humana, é preciso estudar e se dedicar a um objetivo. Por isso, as redes
sociais estão cheias de pseudointelectuais, os quais fazem parte do império do
narcisismo e da vaidade. Isto porque os bons escritores são pessoas simples e
conscientes do ofício que possuem. Não se importam, portanto, com estrelismos.
Não apenas poeta, mas também prosador em contos e peças de teatro,
escritor ambidestro, como se diz. Encontra alguma dificuldade em transitar
entre gêneros literários?
Não há dificuldade em escrever um gênero
ou outro. Há momentos distintos em que é preciso produzir textos de matizes
diversas.
Gostaria de saber sobre os próximos projetos e suas considerações
finais.
Em primeiro lugar, meus agradecimentos ao
professor e escritor Luciano
Lanzilotti pelo espaço para esta entrevista, e aos leitores que surgirão. Em
segundo lugar, convido a todos, para que acompanhem meu trabalho literário no
meu Facebook e/ou Instagram literários: luizotavio.oliani e luizotaviooliani
Em terceiro lugar, dedico-me a muitos
projetos simultâneos. Em breve, lançarei o meu quarto livro de contos, uma obra
escrita em meio à pandemia da Covid-19, além de uma obra infantil.
Deixo o meu correio eletrônico, digo
“e-mail” para contatos: oliani528@uol.com.br
E esclareço que tenho alguns livros
disponíveis para venda.
*LUIZ OTÁVIO OLIANI cursou Letras e Direto. É professor e escritor. Em 2017, a convite de Mariza Sorriso, representou o Brasil no IV EPLP em Lisboa. Participa de mais de 200 livros coletivos. Consta em mais de 600 jornais, revistas e alternativos. Recebeu mais de 100 prêmios. Teve textos traduzidos para inglês, francês, italiano, alemão, espanhol, holandês e chinês. Publicou 16 livros: 10 de poemas, 3 peças de teatro e os livros de contos “A vida sem disfarces”, Prêmio Nelson Rodrigues, UBE/RJ, Personal, 2019; “Ingênuos, Pueris e Tolinhos”, Personal, 2021 e “Um encontro inusitado: concordâncias e divergências”, em parceria com Eliana Calixto, Penalux, 2021. Recebeu o título de “M elhor Autor Apperjiano 2019” pelo conjunto da obra. Em 2020, teve poema publicado nos Estados Unidos da América, na Carolina do Norte, em Chapel Hill, na coletânea internacional “VII Heron Clan”, a convite de Todd Irwin Marshall. Em 11 de junho de 2021, a professora doutora Cristiane Tolomei (UFMA) resenhou “A vida sem disfarces” e “Ingênuos, Pueris e Tolinhos”, no canal A VOZ LITERÁRIA.
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