Versos e afins:
poemas, resenhas e livros
Na poesia haverá sempre um pouco de mistério
Paulo Martins
“Explicar a poesia é algo um tanto inútil. Não pretendo fazer isso. Eu mesmo nunca soube com precisão o que é a poesia.”
Eis aqui um livro que todos os que amam a poesia deveriam ler. Primeiro, por ser poesia de primeira grandeza; segundo, por sua originalidade, por seu caráter intensamente pessoal.
Explicar a poesia é algo um tanto inútil. Não pretendo fazer isso. Eu mesmo nunca soube com precisão o que é a poesia. Mas a sinto tanto que mesmo que quisesse não conseguiria afastá-la de mim. Daí que me arvoro a fazer as declarações acima; dizer, por exemplo: leiam, vale muito a pena.
Na poesia haverá sempre um pouco de mistério, de espanto e de perplexidade. É o que Luciano Lanzillotti nos mostra. Existe poesia nos números, nas quantidades, nas formas geométricas? Claro, há poesia em tudo. Não falta poesia nem num grão de areia. Porque a poesia é sempre uma forma de ver, de sentir, de interpretar o mundo, as coisas materiais e imateriais que nos rodeiam e condicionam. Cada olhar é um mundo poético diferente. Não existe dois olhares iguais. E o olhar de Luciano é rico e concentrado: um fantástico ensaio de conclusões assombrosas até sobre coisas corriqueiras.
Pitágoras, que era apaixonado pelos números a ponto de endeusá-los, era um poeta da forma e da quantidade, embora não se expressasse em linguagem poética. Nesta Geometria do Acaso, que Luciano Lanzillotti divide em quatro partes – Esfera, Pirâmide, Cubo e Prisma – os números, as quantidades, a aritmética, as formas geométricas são interceptados nos sutis acasos da vida. É quando acontece a mágica do esplendoroso enriquecimento do quotidiano, de sua transfiguração, que ele explora de forma excepcional, embora advirta: “a matemática não dá conta com variáveis.”. E é aí que o poeta revela que “por ela, e só por ela”, isto é, pela geometria do acaso,
“é possível compreender
que a vida não se mede,
a vida se gasta.”
Paulo Martins é escritor e jornalista radicado em Lisboa.
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